Estresse na relação entre os Usuários e Servidores do SUS em uma Unidade Sanitária do município de Cachoeira do Sul - RS
Para dar início as publicações do blog, gostaria de compartilhar com vocês as conclusões a que cheguei, durante meu trabalho de conclusão de curso, que buscou encontrar as causas do estresse entre os usuários e os servidores do SUS.
No decorrer deste estudo foi possível
constatar que o estresse estabelecido na relação entre os sujeitos da Unidade Sanitária onde os dados foram coletados, se dá principalmente devido às
dificuldades no sistema de agendamento de consultas. Observou-se que a queixa
principal dos usuários está relacionada ao número de fichas disponíveis, que
não conseguem atender a demanda da Unidade, bem como uma única linha telefônica
que em alguns horários acaba congestionando devido ao volume de pacientes que
ligam ao mesmo tempo.
Já
os servidores sofrem de estresse ocupacional principalmente devido ao fato de
terem que dar aos usuários, durante a maior parte do dia, retornos negativos no
que se refere ao agendamento de consultas, já que o número de fichas
disponíveis é limitado e dividido entre os médicos da Unidade. Além disto, somente
uma consulta, em muitos casos, não resolverá os problemas dos pacientes. Faz-se
necessária a distribuição de receitas para remédios controlados (que também são
limitadas), encaminhamento para exames (que podem demorar dias, meses ou até
mesmo anos), além de medicamentos comuns e gratuitos que deveriam estar
disponíveis na farmácia do SUS e faltam.
Como técnica para coleta de dados, formei grupos focais que possibilitaram a compreensão da burocratização do atendimento,
vivida como uma experiência singular de impotência, do descrédito e da desvalia,
sentidas pelos servidores, por não conseguirem, na maioria dos casos, ajudar
pessoas que chegam até eles em estado de doença, pedindo-lhes ajuda e faltarem-lhes
recursos para auxiliar na cura destas pessoas, devido às carências do sistema.
Faz-se necessário que a equipe desenvolva ações individuais e coletivas, de acompanhamento
e promoção da saúde na unidade, mostrando para a população que o cuidado à
saúde é realizado por uma equipe multiprofissional de forma integral e que este
cuidado não é centrado apenas na figura do médico.
A
pesquisa demonstrou que os usuários valorizam o atendimento médico
especializado, reivindicando médicos especialistas para o atendimento da população.
A US deve buscar estratégias que demonstrem para a população a capacidade que o
médico da família, junto com os demais membros da equipe multiprofissional têm para
desenvolver ações de cuidado em todas as fases do desenvolvimento humano.
A Teoria das Representações Sociais
deu embasamento para a análise deste trabalho pressupondo que: a exploração das
representações sociais poderia permitir o contato com imagens e conteúdos que
expressassem, de certa forma, as necessidades de saúde sentidas pelas pessoas.
No caso, as pessoas alvos deste estudo foram usuários e servidores de uma
Unidade Sanitária.
Existem as representações que são geradas no decurso de um
conflito ou controvérsia social e que não são partilhadas pela sociedade no
conjunto. Estas representações controversas
devem ser consideradas no contexto de uma oposição ou luta entre grupos. Nas representações sociais, o
acento tônico é colocado nos processos de interação e de influência que
orientam a construção e a dinâmica do pensamento social.
Entende-se
que as práticas de saúde vão muito além de intervenções curativas, devendo ser
direcionadas não só para atender, mas para prevenir a doença e promover a
saúde, como bem descreveu Freitas (2005) em seu trabalho. Pensar em saúde como
'ausência de doença', onde para tal, necessita-se apenas de um médico e de
remédios, não dissolverá o problema das carências da saúde pública brasileira.
A
vigência desse modelo tende a desqualificar outros saberes relacionados aos
cuidados com a saúde, deixando de lado os componentes sociais do processo saúde
- doença, assim como a subjetividade do usuário.
Ressalta-se,
portanto, a importância da qualificação dos servidores, para recepcionar,
atender, acolher, escutar, tomar decisões, amparar, orientar e negociar, com os
usuários que chegam até a Unidade Sanitária em situação de doença, trabalhando
não somente as práticas curativas, mas incentivando a população a buscar
alternativas de prevenção de doenças e promoção de saúde.